ZONA LIVRE


INSTRUMENT, DE JEM COHEM
fevereiro 25, 2010, 12:15 am
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Reino Unido, 115 min, 1998, Documentário, cor e p&b

>> Inédito no Rio

24/02, às 19h, Sala 01
25/02, às 19h, Sala 02

“Um diretor/filmmaker extremamente talentoso com inúmeros filmes de inúmeras bitolas em sua história ao lado de uma das bandas mais importante do punk|hardcore mundial. O afegão radicado nos EUA Jem Cohem e os músicos do Fugazi se unem nesse longa para mostrar 10 anos da história da banda de Washigton DC. Repleta de fantásticas imagens de arquivo que o diretor capturou e obteve de uma das mais instigantes épocas do quarteto liderado por Ian Mackey, o filme constrói uma narrativa extremamente fiel à essência da banda, proporcionando uma vivência única aos que o assistem, remetendo diretamente ao que deveria ser um show deles ao vivo. Para àqueles não tão, ou nem um pouco, fãs de Fugazi, fica a dica: uma grande oportunidade de proporcionar-se uma legítima experiência sobre a busca de fazer-se uma música honesta, verdadeira para àquelas que a fazem e livre de pretensões financeiras e midiáticas, fato que podemos relacionar diretamente ao cinema de Jem Cohem, exemplificado com este seu longa metragem.” – Davi Pretto e Bruno Carboni, curadores da Zona Livre

Parte da trajetória de uma das bandas mais importantes do rock independente no mundo todo mostrada através do olhar do renomado e inspiradíssimo cineasta Jem Cohem. É isso que você vai ver na Zona Livre – Mostra Internacional de Cinema. Um documentário musical sobre a banda Fugazi que não parece um documentário, Instrument trata, antes de tudo, de artistas em desenvolvimento e da relação verdadeiramente carinhosa com o seu público, podendo ser visto até por quem jamais ouviu falar na banda. A realização trazida ao Rio de Janeiro pelo CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre (CEN) e pelo Centro Cultural Banco do Brasil tem sessões marcadas para os dias 24 e 25, às 19 horas.


Tratar de uma banda de rock considerada “engajada” socialmente, com um passado punk e um público fiel ao extremo é uma tarefa um tanto quanto complicada, ainda mais quando a intenção é mostrá-la nua, crua e em ação. Apesar disso, o filme consegue mostrar coisas que pouca gente conhece a respeito do Fugazi: especialmente, o senso de humor e o lado sentimental de seus integrantes. Mais do que performances ao vivo cheias de energia e garotos de cabeças raspadas amontoados e suando juntos, Instrument trata de arte, de música e de relacionamentos humanos, mas de uma maneira que apenas o diretor Cohen e os membros da banda conseguiriam fazer.

A montagem do longa se utiliza de filmes em 16 mm, Super-8 e vídeo, além de alguns materiais de arquivo. A idéia era captar a banda não apenas executando suas músicas, mas também no processo de criação – seja em estúdio, no hotel, dando entrevistas… Nas inúmeras imagens de shows são focados não apenas os integrantes do grupo em cima do palco, mas também (e sempre) a sua fiel platéia.

Cohen e a banda pensavam também em utilizar técnicas do “dub” (espécie de pré-história do sample e do remix, originário da Jamaica, onde efeitos sonoros são incluídos, repetidos e alterados) na mixagem do áudio, para construir uma experiência musical que fosse além das inalteradas performances ao vivo e, ainda assim, mantivesse seu caráter “verdadeiro”.

A colaboração da própria banda foi bastante intensa no filme. Durante cinco anos, foram capturadas imagens e materiais que pudessem se integrar a um documentário distante do tradicional, mas que fosse o mais próximo possível de um documento amplo e histórico. Antes ainda desse tempo de convivência com o grupo, o diretor manteve contato permanente com seus integrantes, o que manteve até a finalização do filme. O Fugazi participou intensamente do processo de edição, oferecendo idéias e criando material sonoro especialmente para entrar na trilha.

Apesar dos aspectos que o afasta dos documentários propriamente ditos para gerar uma espécie de filme artístico ou um road-moive, Instrument registra a evolução e o íntimo de uma banda que sempre procurou exatamente a mesma coisa em suas canções: experimentar e fugir de regras pré-estabelecidas. Não espere assistir a um filme como “Anthology” dos Beatles, e nem mesmo “The Great Rock n’ Roll Swindle”, dos Sex Pistols. Com o Fugazi, o buraco é mais embaixo.
Bruno Bazzo

FUGAZI

Formado em 1987 na capital norte-americana, o Fugazi é uma banda quase sempre citada como parte do chamado “pós-punk”, principalmente por conta de seu principal nome, o guitarrista e vocalista Ian MacKaye, ter sido membro de um importante grupo punk, o Minor Threat. Ao formar a banda, Ian tinha como companheiro Jeff Nelson, que acabou saindo para montar outro projeto, o “Three”. Atualmente, os dois são sócios da Dischord Records, responsável pelos lançamentos do Fugazi.

Antes de tocar no Minor Threat, MacKaye formou a ingênua banda Teen Idles, em 1979, porém não obteve muito sucesso. Foi apenas à frente da já referida sumidade punk que ele despontou para os olhos da música internacional, criando para si uma imagem antidrogas e politicamente consciente. O movimento “Straight Edge”, ligado a preceitos de vida ecológicos e anarquistas, nasceu através das letras e mensagens do Minor Threat, apesar de MacKaye negar a paternidade dos “edge kids”, como são chamados, por defender sobretudo as escolhas e modos de vida pessoais.

Outro aspecto muito ímpar do Fugazi é sua preocupação constante com o público, algo que chama atenção pelo lado ético raras vezes visto no mundo do rock. Seus ingressos nunca passam de U$ 5, os preços dos discos vinham, impressos nos CDs e seus shows são abertos para todas as idades – além de usualmente serem realizados em lugares que vão além de clubes e ginásios, passando por instituições de recuperação social e projetos educacionais, para mostrar que a música não tem barreiras.

Discografia
The Argument – 2001
End Hits – 1998
Red Medicine – 1995
In on the Kill Taker – 1993
Steady diet of nothing – 1991
Repeater – 1990

JEM COHEN

Nascido em Cabul (Afeganistão) em 1962, onde seu pai trabalhava para o governo norte-americano, o cineasta Jem Cohen atualmente vive em Nova York e é reconhecido mundialmente por seu trabalho multifacetado ao longo de mais de 20 anos. Sua ligação com a música sempre foi bastante forte, e gerou trabalhos com artistas como R.E.M., Sonic Youth e Tom Verlaine (Television), além do próprio Fugazi, entre outros.

Sem formação acadêmica voltada para a sétima arte especificamente, Cohen preferiu se especializar em pintura e fotografia – o que daria a seus filmes traços singulares, numa contemplação e aproximação de diferentes formas artísticas que passam pelo documentário, retratos, videoclipes e outras criações, experimentais ou não.

Seu filme de estreia, “Chain”, ganhou premiére no Festival de Berlim e acabou levando o Independent Spirit Award. Em seguida vieram outros prêmios importantes, como Full Frame Documentary Festival, por “Benjamin Smoke”, Locarno, Bonn Videonale, Film + Arc e o Festival Dei Popoli, por “Lost Book Found” – um retrato de Nova York inspirado em Walter Benjamin, entre outros.

Cohen jamais conseguiu se adaptar à filosofia cinematográfica de Hollywood, apesar de ter trabalhado na parte técnica com nomes como Martin Scorsese, Alex Cox e John Sayles. Sua visão política aguçada, além das propostas artísticas, não se encaixaram muito ao mainstream como o conhecemos, estando mais próximo do lema punk “do it yourself”. “É muito inspirador para mim ver as pessoas aceitando coisas de fora da indústria musical, e isso me deu um tipo de modelo para trabalhar fora da indústria do cinema”, diz o diretor.

Muitos de seus trabalhos, quando não são criados exatamente como instalações, ganham exibições em museus, galerias e outros espaços culturais que não uma sala de cinema tradicional. Isso aproxima cada vez mais sua relação com outras formas de arte, e dá visibilidade ao tipo de filme que Cohen quer lever ao público. Retrospectivas desse tipo foram feitas em sua homenagem na Inglaterra, Argentina, Alemanha e Espanha, e em 2005 o Fusebox Festival, na Bélgica, o convidou para ser curador.


Filmografia


The 8 (2009)
Chinatown Film Project (2009)
Evening’s Civil Twilight in Empires of Tin (2008)
Long for the City (Patti Smith in New York) (2008)
Blessed Are the Dreams of Men (2006)
Building a Broken Mousetrap (2006)
NYC Weights & Measures (2005)
Chain (2004)
The Best of R.E.M.: In View 1988-2003 (2003) (V) (videos “E-Bow the Letter”, “Nightswimming”)
Benjamin Smoke (2000)
Little Flags (2000)
Amber City (1999)
Blood Orange Sky (1999)
Instrument (1998)
Lucky Three an Elliott Smith Portrait (1997)
Lost Book Found (1996)
R.E.M. Parallel (1995) (V) (video “Nightswimming”)
Buried in Light (1994)
Black Hole Radio (1992)
Drink Deep (1992)
R.E.M.: This Film Is On (1991) (V) (videos “Belong”, “Country Feedback”)
R.E.M.: Pop Screen (1990) (V) (video “Talk About The Passion”)
Just Hold Still (1989)
This Is a History of New York (1987)
A Road in Florida (1983)

INSTRUMENT

Elenco

Brendan Canty
Joe Lally
Ian MacKaye
Guy Picciotto

Equipe

Direção, Fotografia e Edição: Jem Cohen
Música Original: Fugazi
Som: Andrew Kris, Nick Pellicciotto e Joey Picuri



ZONA LIVRE 2010 – MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA


No contra fluxo do ritmo de Carnaval que se instaura na cidade, o Rio recebe em fevereiro uma mostra de cinema inédita, composta por um panorama de longas-metragens estrangeiros com pouca entrada no Brasil, mas que por outro lado possuem intensa circulação na web. Essa é uma das sugestões para o circuito off samba deste verão: a Zona Livre – Mostra Internacional de Cinema, que acontece entre os dias nove e 28 no CCBB Rio por iniciativa do CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre (CEN).

Confira aqui mesmo no blog o endereço e telefones de contato, a grade de programação e o catálogo completo da mostra para download, impressão ou leitura.

A programação conta com uma maioria de filmes inéditos no Brasil. Ao todo, a mostra traz para o Rio 19 títulos que circularam em festivais mundo afora, mas que terminaram por criar sua reputação e ganhar destaque num circuito paralelo: o da Internet, em fóruns e comunidades de cinema. À relevância de algumas obras, soma-se a saudável transposição desses ‘arquivos’, vindos das redes de cinéfilos na Internet, em ‘filmes’ exibidos em 35mm e DVD, autorizados por seus diretores, na consagrada experiência coletiva da sala de cinema.

Acesse imagens dos filmes em nosso canal no Flickr e assista trailers completos, de todos os filmes da mostra, no canal do festival no You Tube. A seguir, uma síntese da programação:

Intenso fluxo de informações, downloads, copyrights, copylefts e quebras de códigos de zonas de exibição habitam o emaranhado conceitual desta mostra, cujo objetivo é propor uma reflexão sobre a democratização e as vias paralelas da informação. Ao mesmo tempo, a Zona Livre também aborda o inevitável e permanente processo de troca de telas a que a imagem é submetida hoje em dia, neste caso do computador para a sala de cinema do CCBB-RJ.

Dentro desta idéia, alguns diretores com filmes presentes na Zona Livre participarão de debates online com o público do CCBB, via Skype: de diferentes partes do mundo, eles estarão em tempo real na sala de cinema conversando com os espectadores sobre suas obras. Por outro lado, o diretor norte-americano Cory McAbee estará no Rio de Janeiro pessoalmente, “offline”, para um debate com público na semana final da mostra.

A mostra Zona Livre surgiu em Porto Alegre, em outubro passado, dentro da programação internacional da edição 2009 do CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre. Na curadoria convidada pelos organizadores do festival para o projeto, dois jovens que representam a novíssima geração de produtores gaúchos plugados aos novos meios: Davi Pretto e Bruno Carboni, da Tokyo Filmes. A experiência bem-sucedida no sul, durante a sexta edição do CineEsquemaNovo, chega agora a outros centros com uma programação consistente para os cinéfilos de plantão em pleno fevereiro.

Todos os filmes da mostra receberão reportagens especiais aqui no blog. No catálogo, você confere mais informações sobre todos os títulos. Confira aqui a lista dos longas em exibição:

All About Lily Chou Chou, de Shunji Iwai (Japão)
>> inédito no Brasil

American Astronaut, de Cory McAbee (EUA)
>> inédito no Rio de Janeiro; exibido no Brasil apenas no CEN 2009

Black Night, de Olivier Smolders (Bélgica)
>> inédito no Brasil

Daytime Drinking, de Young-Seok Noh (Coréia do Sul)
>> inédito no Brasil

Ex-Drummer, de Koen Mortier (Bélgica)
>> inédito no Rio de Janeiro; exibido no Brasil apenas no CEN 2009

Glue, de Alexis dos Santos (Argentina / Reino Unido)
>> inédito no Rio de Janeiro

Good Dick, de Marianna Palka (EUA)
>> inédito no Brasil

Gozu, de Takashi Miike (Japão)
>> inédito no Rio

Hukkle, de György Pálfi (Hungria)

Hunger, de Steve McQueen (Reino Unido / Irlanda)
>> inédito no Rio e SP

Instrument, de Jem Cohen (EUA)
>> inédito no Rio

Man from Earth, de Richard Schenkman (EUA)

Moonlighting, de Jerzy Skolimowski (Reino Unido)
>> inédito no Rio

Nowhere, de Gregg Araki (EUA)

One night in one City, de Jan Balej (República Tcheca)

Sangre, de Amat Escalante (México)
>> inédito no Rio

Stingray Sam, de Cory McAbee (EUA)
>> inédito no Rio de Janeiro; exibido no Brasil apenas no CEN 2009

Taxidermia, de György Pálfi (Hungria)
>> inédito no Rio

Trash Humpers, de Harmony Korine (EUA)
>> inédito no Brasil